Entre seu estilo de animação com referências aos desenhos animados dos anos 30 e os acordos imaginativos com o Diabo, Cuphead sempre foi um jogo que encorajou os fãs a imaginar mais. Além de sua ótima jogabilidade, havia uma qualidade vívida que definia o jogo de Chad e Jason Moldenhauer. Agora, graças à Netflix, o universo que tínhamos no jogo virou, de fato, de uma animação.Cuphead: A Série não é apenas uma expansão amorosa de seu material de origem, mas também é uma homenagem familiar a uma era da animação que muitas vezes foi esquecida. Qualquer pessoa de qualquer idade pode assistir The Cuphead Show! e divirta-se muito. Durante uma era de TV que prospera em programas especiais para todas as pessoas, essa sensação de prazer universal é um grande elogio.
Adaptação
Em narrativa e proposta, Cuphead: A Série é bastante parecida com o jogo de 2017 em que é baseado, porém, os criadores sabem que se trata de uma adaptação e as pequenas mudanças são fundamentais para tornarem a obra muito mais acessível, atual, mas sem perder sua essência. A começar pela principal inspiração o estilo de animação clássica e senso de humor "polêmico" dos desenhos de Fleischer, da década de 1930. Ao longo dos episódios, os irmãos Xicrinho e Caneco entram em uma difícil jornada para recuperar suas almas, que eles mesmos acabaram vendendo, sem querer, para o Diabo.
Animação e design de personagens
Diferentemente do jogo, Cuphead: A Série deixa de lado todo o processo de Rubber Hose Animation -- primeiro estilo de animação padronizado na indústria americana de animação --, porém a essência continua a mesma. Dando lugar a um trabalho mais moderno, afinal, caso houvessem optado por animação de células, ainda estaríamos esperando.
Mas a série fez questão de trazer a tona o sentimento de estarmos vendo um trabalho feito em cima destes moldes antigos. Muitas cenas abrem com uma aproximação de camadas, como algumas animações da Disney. Isso sem contar quando misturam os personagens animados com lindos cenários de stop-motion. Um verdadeiro deleite aos olhos. O mundo todo da animação segue as convenções da época da década de trinta e podemos ver isso claramente no design de personagens. O universo é expandido e podemos ver mais personagens menores que aparecem ou não no jogo do estúdio MDHR. Com Vovô Chaleira sendo de longe um dos mais engraçados.
A ilha Tinteiro é um lugar vivo e pulsante cheio de aventuras para os garotos. Mas por conta de expandir – e muito – a ideia original apresentada no jogo, varias mudanças tiveram de ser feitas, algumas para melhor, outras para “pior”.
Versão para todos os públicos
Cuphead: A Série traz um ar mais infantil as aventuras dos irmãos. O conceito original de animações da década de 30, sempre era voltado para universos mais maduros, visto que os Estados Unidois (EUA) estavam passando pela Grande Depressão. Com isso é possível ver que o jogo de Cuphead representa bem esse mundo de animações que tangem em universos mais maduros. Com os irmãos perdendo suas almas em um Cassino demoníaco após serem desafiados pelo próprio Diabo. Já sua versão animada pega mais leve com os meninos e deixa eles serem crianças aprontando. Aqui só Xicrinho fica na pendura com o chifrudo. Perdendo sua alma em um jogo de "acertar a bolinha no buraco" em um “Carnamal”. Porém, diferente do jogo também, aqui não há missão de coletar as almas dos chefes, com os irmãos simplesmente fugindo do Diabo e ele perseguindo a alma de Xicrinho durante alguns episódios. Mantendo a boa e velha ideia sobre apostas, de que, a casa sempre ganha!
Com isso, vários chefes do jogo aparecem em episódios como antagonistas ou cameos. Chefes como as verduras do Root Pack, Ribby e Croaks e King Dice aparecem como antagonistas diretos da dupla, além do Demônio que já foi citado. Porém podemos ver o dragão Grim Matchstick no fim de um episódio com Sr. Torresmo, o porco vendedor do jogo, os policiais de Rumor Honeybottoms e um rato como Werner Werman espalhados por alguns episódios. Além de Cala Maria e Capitão Brineybeard na abertura.
Dublagens e localização
Para completar essa crítica, pensei que deveria assistir a série duas vezes, uma dublada em português e outra legendada, com o áudio em inglês. No elenco americano temos nomes de peso como Tru Valentino, Wayne Brandie e Frank Todaro. Mas na minha opinião a versão nacional está tão boa quanto a original, não apenas pelo excelente trabalho de dublagem, mas como também pela localização da mesma. Com Xicrinho sendo interpretado por Sergio Stern (Mordecai/Mike Wazowski) e Caneco por Daniel Simões (Nobutaka Osanai, de Tokyo Revengers) e Vovô Chaleira pelo talentoso Carlos Gesteira (Poeira Rust-eze, em Carros e Carros 3) – um show de qualidade.
Conclusão
Cuphead: A Série é uma excelente adição ao universo do jogo. Permitindo a dupla de irmãos serem crianças e não agentes do Diabo em missões obscuras de roubar almas. Diversão para toda a família do começo ao fim, com um estilo de arte gracioso, trilha sonora de ponta -- assim como no jogo, repleto de jazz -- e uma ótima pedida para o fim de semana com seus 12 curtos episódios.
Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor de filmes valvulado. Jornalista do Norte que invadiu o Sudeste para fazer e escrever filmes.