CRÍTICA | Pânico reverencia o clássico sem se esquecer do futuro

Quinto capítulo da franquia propõe mais um exercício de metalinguagem ao falar sobre filmes legado.
By CAJR
14/01/2022

Mais de uma década depois, a franquia Pânico está de volta com o quinto filme da saga de terror estrelada por Neve Campbell, David Arquette e Courteney Cox. Após revitalizar o gênero nos anos 1990, a série retorna com uma sequência que reverencia ao clássico de 1996, ao mesmo tempo que faz uma sátira sobre a era da internet e alfineta os próprios fãs da franquia.

Embora seja o quinto da série, o nome do longa é apenas Pânico, mesmo levando em consideração os quatro filmes anteriores. Isso porque o novo filme é o primeiro sem Wes Craven e Kevin Williamson, na direção e roteiro, respectivamente. Essa mudança nas duas funções mais importantes da narrativa do filme fazem parte da metalinguagem - já característica da franquia - do novo longa: reverenciar e encher de referências sobre própria franquia.

Pense comigo: Pânico trata-se de uma série de filmes de terror autoconciente e os personagens - incluindo as vítimas - sabem das regras e clichês do terror, mas após quase 25 anos desde o primeiro filme, a própria franquia se tornou uma dos principais alicerces do terror, mas só agora, sem os criadores originais, o novo longa pode fazer essa reverência ao legado da franquia.

O quinto longa-metragem se passa vinte e cinco anos após uma série de assassinatos brutais chocar a pacata cidade de Woodsboro, Califórnia. Agora, temos um novo assassino vestindo a máscara de Ghostface, que atacou um grupo de adolescentes na intenção de ressuscitar segredos do passado mortal da cidade.

Dirigido pelo duo Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, responsáveis pelo terror cômico Casamento Sangrento, que pisa fundo no acelerador na proposta metalinguística, eles sabiam em que grama estavam pisando e acredito que posso adiantar aos fãs da franquia: podem ficar tranquilos que teremos o suficiente de matança para entreter aqueles mais ávidos pelo terror do tipo ‘gore’, mas saibam de antemão que o carro-chefe aqui, não é aquilo que te assusta ou deixa tenso, já que o maior trunfo da mais recente versão de Pânico é o humor, que inunda a narrativa desde o primeiro ataque do maníaco Ghostface.

Existe um tipo de revitalizção nas piadas também. Afinal, se no filme de 1996 fazia piada com filmes de terror da época, essa nova versão ironiza obras do considerado "pós horror", como obras como, A Bruxa, Corra! e Midsommar, que é a vertente do gênero mais elogiada por crítica e público nos últimos anos.

Também utilizando de uma muleta narrativa atual - que encontramos, inclusive no recente Matrix Resurrections - é da obra tirando uma onda com o próprio fã, mais especificamente aqueles fanáticos de verdade, mostrando suas piores versões, mesmo aqueles com carinha de bom moço.

Conclusão

Pânico de 2022 está longe de ser perfeito, muito menos ele ousa a querer ser maior que o original. A autorreferência é legal, mas há momentos de exagero aqui, assim como o mistério sobre quem estava debaixo da máscara do Ghostface não ser tão grande, pelo menos pra quem conhece a franquia e as motivações dos assassinos dos filmes anteriores. Ainda assim, podemos dizer de peito estufado e abdômen dolorido que não ríamos tanto desde a primeira entrada em 1996, agora, um pouco mais temerosos ao esbarrar em alguns fãs.


Mais sobre:




CAJR - Carlos Alberto Jr

Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor de filmes valvulado. Jornalista do Norte que invadiu o Sudeste para fazer e escrever filmes.
  • Animes:Cowboy Bepop, Afro Samurai e Yu Yu Hakusho
  • Filmes: 2001 – Uma Odisseia no Espaço, Stalker, Filhos da Esperança, Frank e Quase Famosos
  • Ouve: Os Mutantes, Rush, Sonic Youth, Kendrick Lamar, Arcade Fire e Gorillaz
  • Lê: Philip K. Dick, Octavia E. Butler, Ursula K. Le Guin e Tolkien
  • HQ: Superman como um todo, assim como as obras de Grant Morrison e da verdadeira mente criativa por quase tudo na Marvel: Jack Kirby